Resumo | As raízes deste livro estão no projeto "Tipo Logia, monitoramento e recuperação de corpos d'água da Reserva Biológica do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga, São Paulo". A pesquisa visou, de inicio, à comparação de três reservatórios com diferentes níveis de trofia e em escala temporal de, pelo menos, cinco anos, de forma a permitir a identificação de padrões de funcionamento num enfoque ainda bastante raro no pais. O projeto foi iniciado em 1996 e encontra-se em pleno andamento. Na primeira fase da pesquisa, o objetivo maior foi, portanto, o entendimento da estrutura e da dinâmica de tais reservatórios. É importante ressaltar neste momento que os três sistemas estudados funcionam como pontos de convergência das múltiplas atividades que se desenvolvem no entorno, inclusive de seu uso e do impacto antrópico. A inserção do conceito de bacia hidrográfica no estudo dos reservatórios fez com que o projeto fosse ampliado e passasse a abranger outras áreas do conhecimento como, por exemplo, o clima, a geologia e a física, entre outras, de forma a transformar-se num projeto multidisciplinar. Nesta segunda fase, contou com o envolvimento de diferentes profissionais de várias instituições de pesquisa, isto é, foi nesta etapa que surgiu a interação com pesquisadores no campo da física metereológica e abriu-se a perspectiva para a interdisciplinaridade, a qual foi tentativamente aplicada no enfoque da sub-bacia do IAG. Nesta visão sistêmica, o elemento Água é vital. É a Água que trespassa as interfaces e permeia os grandes reservatórios da atmosfera, da terra e da Água, representando um fio condutor de Ligações entre os grandes subsistemas. E foi a água que nos conduziu ao vislumbre da importância da Unidade de Conservação do PEFI, como verdadeiro patrimônio natural encravado em uma das maiores metrôpoles do mundo. Este Livro pretendeu consolidar, pela primeira vez, os resultados dispersos sobre o PEFI. Os primeiros capítulos caracterizam a Unidade de Conservação, incluindo histórico e legislação, clima, meio físico (geologia, geomorfologia, hidrografia), águas subterrâneas, águas superficiais e vegetação em seus diferentes aspectos (padrões, biodiversidade, lista de espécies novas para a ciência e de espécies ameaçadas de extinção, estrutura, dinâmica e funcionamento da floresta associados a conservação). Os capítulos foram devidamente ilustrados, com inclusão de mapas, alguns deles não disponíveis ou mesmo então inexistentes. Nos capítulos que seguem (12 ao 16) são apresentados os efeitos do impacto antrópico sobre o PEFI. Inicia com a influência das mudanças climáticas nos ecossistemas florestais, o impacto da poluição atmosférica sobre a vegetação, o histórico da degradação da vegetação, os resíduos sólidos e líquidos, a invasão do entorno e a degradação das águas dos reservatórios. O capítulo 17 dedica-se A Educação Ambiental no PEFI, o que já existe e perspectivas, despontando como poderosa ferramenta mitigadora dos impactos antrópicos e como agente transformador do pensar e agir. Finalmente, o ultimo capítulo apresenta a lista das publicações existentes sobre o PER. Nesta primeira síntese, buscamos consolidar os aspectos mais relevantes sobre esta Unidade de Conservação. A intenção foi mostrar que as partes estão interligadas e conectadas com o todo; e que o todo depende das partes. Como exemplos podemos citar, entre tantos, a ilha de conforto térmico propiciada pela vegetação do PEFI, a importância da vegetação no controle da erosão do solo, na proteção dos mananciais e na recarga dos aqüíferos, os benefícios decorrentes do seqüestro de carbono com a conseqüente redução do teor desse elemento atmosférico, o transporte das espécies químicas pela água interligando atmosfera solo-água e a manutenção da biodiversidade na qual as espécies interagem de modo complexo como partes de comunidades naturais. Foi demasiado preocupante testemunhar que o crescimento desordenado de macr6fitas aquáticas (aguapés) no Lago das Garças, por conta da eutrofização de suas águas, pode causar a morte de bichos-preguiça, o que exemplifica a complexa rede de inter-relações existente na área do PEFI. Neste contexto sistêmico, pretendemos, ainda, mostrar a fragilidade do equilíbrio desta unidade frente à ação deletéria do homem e da pressão da urbanização de São Paulo. Foi nosso intuito maior despertar o interesse pelo PEFI, a terceira maior reserva de mata nativa no município de São Pauto, e de seu valor como patrimônio natural, cultural e sócio-econômico. O PEFI apresenta contexto único já que congrega uma Unidade de Conservação, instituições de pesquisa, núcleos de educação ambiental e lazer, bem como os efeitos deletérios dos impactos antrópico decorrentes da urbanização de uma das maiores metrópoles do mundo. Ações conjuntas envolvendo a comunidade cientifica, o governo e a população e que incorporem pesquisa, ensino, educação ambiental e políticas públicas poderão, com certeza, transformar o PEFI em modelo de gestão, de uso sustentado e, conseqüentemente, de conservação da biodiversidade. A Biologia da Conservação mostra a necessidade urgente de uma reversão total do pensamento político e social atual em nível mundial, para a percepção de que a diversidade biológica é de extremo valor e, na verdade, essencial para a existência humana. Esperamos ter dado os primeiros passos com esta contribuição e ter encorajado e Engajado especialistas, ambientalistas, leigos e políticos no grande desafio pela conservação do PEFI, que poderá ser o legado de nossa geração para as gerações futuras. E um exemplo da importância do patrimônio natural na manutenção dos padrôes de qualidade de vida do homem. |